Margarida, a linda

SEU ESTÔMAGO ERA CHEIO DE POESIA, assim como ela. Sua maior alegria era cuidar do jardim feito de rosas, tulipas, hortências, lótus, dálias e jasmin, todas belas, como ela: Margarida, a Linda. Bela como um sonho doce — algodão doce —, como seus cabelos rosados. Seu mistério inteiro constava na solidão da colina, semelhante ao mistério dos olhos roxos, cor de uva madura, sua voz sempre soou suave, do mesmo jeito que a brisa quente quando beija nosso rosto. Margarida, a Linda. Pois é... o título não era à toa — de verdade, linda! No entanto, nem tudo era um mar de rosas, pois, como já foi explicado, ela era solitária, só havia ela na colina. Nada de vizinhos, por isso o jardim: tinha a flora como amiga. Horas e horas falava com o jardim, afinal, por ter nome de flor, elas iriam a entender mais que gente, certo? Flores, chás, borboletas, bordados, tortas e poesia. Essa era a vida de Margarida.

Jardim da Ilha (1970), Sally Swatland, óleo sobre tela

Mas isso mudou, por quê? Ora, a vida tem dessas de mudar quando a gente menos espera.

Certa vez, regando suas amigas flores, ouviu um barulho vindo do arbusto. Ficou assombrada. Com receio, foi investigar e se separou com um coelho malhado preso no arbusto. Sentida com o sofrimento do bichinho, Margarida o ajudou e beijou sua cabeça. Então chegou o espanto: o coelho falava! Caiu para a trás de medo e espanto. Desde de quando coelho fala? Esse falava, ora.

O coelho agradeceu, se apresentou como Rabanada e que passava por lá porque na toca onde mora circulou um boato de amoras docinhas ali por perto. Margarida achou justo. Daí para a frente, os dois conversaram por muito tempo, até o anoitecer e cada um foi para sua casa. No dia seguinte, Rabanada apareceu de novo, dessa vez para continuar a conversar e assim fez. E no dia seguinte. E no outro dia, de novo. E no outro, e no outro, e no outro... Continuaram a conversar por tantos dias, que uma amizade se formou.

Margarida era e continua sendo linda, porém já não era mais solitária.

Essa fábula foi criada de presente para uma criança muito especial e espero que, todas às vezes que ela ouça a história, entenda a moral presente.