Mamãe e os Bem-te-vis
HOUVERA UM TEMPO EM QUE UM NINHO formou-se perto da minha casa e mamãe ficou encantada com os passarinhos, tinha a certeza que eram Bem-ti-vis. É aqui que mora o porém: onde está o canto típico? Ora, o gato ainda não comeu-lhes as línguas — ou eles por inteiro.
Recebi um sermão de mamãe.
Continuou convicta, crente que eram Bem-ti-vis e irritada quando pedi provas.
Outro sermão.
Quanta ousadia, quanto orgulho, quanta cegueira! Por mais que pedisse, educadamente, explicações, as reações pioraram, chegou ao nível de desferir tapas contra o meu rosto. Eu ainda atiraria contra os malditos Bem-ti-vis. A paixão continuou e ignorei-a, sentido o sangue na boca por morder a língua. Respire fundo, vá em frente, repetia a mim mesma, já sem paciência.
A obsessão pelos supostos Bem-ti-vis perdurou até o fatídico dia em que morreram eletrocutado pelos fios do poste. Provou-se que não eram Bem-ti-vis, eram Neineis. Ao enxergar tais fatos, deu de ombros, murmurando, fazendo beicinho e pouco caso.
— Pois é... você estava certa, afinal. — Pausou para olhar ao redor, em buscar de um novo objeto para criar mais uma hipérbole.
Para mim, chega!
Dei meia volta, deixando-a fabular sozinha.
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| Dirigindo Pela Estrada Velha (1940), Emil Jean Kosa Jr, óleo sobre tela |





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