Insônia noturna
Com um gesto de carinho no colo de minha mãe, durmo profundamente, acolhida, naquele ambiente protetor. Os sonhos dançam detrás das pálpebras, feixes de luz, sombras, ruídos, sensações e desconhecimento do que realmente está acontecendo — a cegueira ora sufocante, ora sedutora. Abruptamente, tudo isso desaparece, encolhe-se para um lugar obscuro de minha mente e estou desperta, suada, perdida, babada e desgrenhada. Encontro-me encolhida, na beirada da cama desfeita, minha mãe concentrada no seu próprio mundo em meio a penumbra do quarto. Precisa levantar, foi o meu primeiro instinto, preciso tomar um banho e ver às horas.
Banhada, vejo que são 23:05 e iludo-me pensando que em breve dormirei. Talvez deveria ter aproveitado o tempo desperta para por minhas orações em dia, talvez deveria estar estudando minha fé, talvez deveria estar estudando para o colégio, talvez deveria ter escrito, talvez deveria ter lido... Talvez. No entanto, o tempo foi gasto com músicas, vídeos curtos esteticamente belos e pensamentos recorrentes de culpa. Sempre é deveria nunca devo.
![]()  | 
| Despertar do Espírito da Rosa (1897), William Stott, óleo sobre tela | 
Condeno-me a passar horas, dias, semanas com o pensamento de não estar sendo boa o suficiente e, consequentemente, machuco aqueles que amo — e me machuco no processo. O medo de estar fora de ritmo, do controle da língua, de tudo estar errado comigo. A solução que encontro é o desejo pela morte e renascimento. A morte é um fim de ciclo — quem sou hoje — e renascimento... não precisa de muitas explicações — quem posso me tornar. Embora, se digo em voz alta para um grupo esse desejo, receberei olhares tortos pois irão interpretar como um ideal suicida, morrer literalmente e, renascer, torna-se reencarnação. Não é isso, não mesmo. Devo morrer em vida, simbolicamente, para que o processo de ressurreição, embora lento, possa transformar-me em um novo ser, cujos os defeitos não existam mais.
Essa espiral de pensamentos perdurou até aquele momento que mentimos a nós mesmo que só irá ser um descanso aos olhos. Deitada no sofá, com óculos no rosto, sabia perfeitamente da mentira que contara a mim mesma, mas acreditei na mentira para que ela acontecesse, distorcida. Dormir por mais de meia hora, acordei com um pesadelo de está sendo observada e percebi que nada substitui o conforto da cama. Novamente, adormeci, dessa vez, sem sonhos que me fizessem enfadar enquanto durmo.





Olha eu aqui! Disse que viria e vim. Sou leigo quanto ao funcionamento/utilização legal dos blogs. Só irei deixar uma recomendação/sugestão: procure saber as regras para utilização de fotos, pinturas e/ou figuras de outras pessoas. Desconsidere minha sugestão se todas imagens que você utilizou aqui no blog sejam suas... Sim... li o texto Insônia Noturna e gostei muito. Vamos conversar pessoalmente hein! Irei voltar aqui para ler os demais. Meus parabéns!
ResponderExcluirOlá, Erivaldo! Muito obrigado pelo feedback, é muito importante para mim! Sobre a utilização de imagens, escrevi tão apressadamente que me esqueci de colocar a quem realmente pertencia a pintura, mas já deixei os devidos créditos ao autor. Enfim, foco feliz que tenha gostado da crônica! Abraço!
Excluir